A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA
ESCOLA
por Carla Regina Rodacki Klossowski
Luciane Vanessa Mendes
A discussão das questões ambientais
assume cada vez mais relevância. O acentuado consumismo, o avanço tecnológico e
da urbanização promovem sérios impactos na área ambiental, sendo
que a Educação Ambiental busca superá-los. Instiga-se a adoção, nesta
perspectiva, de uma visão socioambiental de meio ambiente, procurando
relacioná-lo com as diversas ações do ser humano. A escola é um espaço
apropriado para a discussão do tema, de forma a conduzir o aluno num processo
de sensibilização e conscientização, a fim de atuar criticamente na sociedade,
exercendo sua cidadania ambiental.
Desde
as primeiras civilizações, o homem explorou o meio em que vive. Com o passar do
tempo, aconteceram também inúmeras mudanças nos valores e modos de vida da
sociedade, até surgirem indústrias e a urbanização. Com isso, a
utilização dos recursos naturais passou a ser mais intensa.
Com
o aprimoramento dos meios de comunicação efetuados principalmente nos países de
capitalismo central, ampliam-se as comunicações de massa, tendo como âncora
desta a publicidade, a qual acelerou o consumismo e a ação do homem ao meio
ambiente. Assim, “A história da humanidade vai gerando situações novas, que
criam necessidades de o homem ordenar de alguma forma os seus comportamentos
frente às novas realidades que surgem” (PENTEADO, 1994, p. 25).
A
televisão e jornais proporcionam a difusão dos problemas ambientais e atingem
um grande número de pessoas em todo mundo. Contudo, a maioria delas, acaba
dando maior importância à propaganda e à ideologia do poder ligada ao
consumo. O ser humano passa a aceitar aquilo que os meios de comunicação impõem
de forma passiva, na maioria das vezes sem analisar criticamente a informação
que está recebendo. Desta forma não acontece que o que propõe Reigota
(2002, p. 116), o qual afirma que:
O
exercício da leitura e desconstrução dos discursos das imagens passa pelo exercício
do reconhecimento do indivíduo como cidadão, e não como mero receptor passivo,
sem voz, sem resposta a esses discursos e sentidos produzidos em escala
industrial e em grande parte comprometidos ideologicamente com o
conservadorismo(REIGOTA, 2002, p. 116).
Enfim,
todos esses fatores geraram mudanças na cultura, pois os indivíduos passaram a
ver o meio ambiente como objeto de uso para satisfazer aos seus desejos, sem se
preocupar com as conseqüências e sem estabelecer limites e critérios para se
“apropriar” da natureza, ou, melhor dizendo, para viver com a natureza e não
contra a ela. Essa nova cultura que surgiu propiciou o aparecimento de
problemas ambientais que afetam a qualidade de vida, ocorrendo uma crise de
relações entre sociedade e meio ambiente.
Toda
a situação da sociedade, na década de 1960, teve o surgimento do movimento
ecológico, que questiona as condições de vida da população e os problemas
ambientais, nascendo propostas de difusão da Educação Ambiental, como
ferramenta de mudança nas relações do homem com o meio ambiente e como resposta
à preocupação da sociedade com o futuro da vida.
O
movimento ecológico tem essas raízes histórico-culturais.(...) Sob a chancela
do movimento ecológico, veremos o desenvolvimento de lutas em torno de questões
as mais diversas: extinção de espécies, desmatamento, uso de agrotóxicos,
urbanização desenfreada, explosão demográfica, poluição do ar e da água,
contaminação de alimentos, erosão dos solos, diminuição das terras
agricultáveis pela construção de grandes barragens, ameaça nuclear, guerra
bacteriológica, corrida armamentista, tecnologias que afirmam a concentração do
poder, entre outra(Gonçalves, 2005, p.12).
Os
movimentos ecológicos trazem como uma de suas propostas a difusão da Educação
Ambiental como ferramenta de mudança nas relações do homem com o meio ambiente
e surge como resposta à preocupação da sociedade com o futuro da vida.
A
Educação Ambiental está relacionada à incorporação de novos valores e atitudes,
para que indivíduos sejam sensibilizados acerca dos problemas sociais e
naturais, e possam desempenhar criticamente o seu papel de cidadãos na
sociedade.
Assim,
podemos afirmar que há uma politização do debate circunscrito como
“ambiental-ecológico”, no sentido que ganha corpus nas ruas e se converte em
pressão da sociedade civil para com o Estado, que na busca por manter sua
legitimidade social, formaliza atitudes e opções que se convertem em leis. É
nesse sentido que destacamos a Lei nº. 9795/99, que constitui a Política
Nacional de Educação Ambiental, dispõe de um artigo no qual se comenta:
Entende–se
por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do
povo, essencial à sadia qualidade de vida e sustentabilidade (BERNA, 2001, p.
100).
A
Educação Ambiental tomou um rumo mais direcionado às questões naturais. Muitos
intelectuais e ativistas vêem como o objeto de seu estudo, só as causas da
natureza, como se problemas sociais, como a fome, por exemplo, não fosse um
problema ambiental. Estes pesquisadores e autores possuem, ao nosso
entendimento, uma visão parcial, para não dizer equivocada, a respeito dessa
educação. Quando se fala de pobreza e meio ambiente, estes deveriam ser
tratados num mesmo patamar, sem considerar um menos importante que o outro,
pois, para a Educação Ambiental, estes dois problemas possuem um mesmo valor,
onde a:
A
Educação Ambiental deve tratar das questões globais críticas, suas causas e
inter–relações em uma perspectiva sistêmica, em seu contexto social e
histórico. Aspectos primordiais relacionados com o desenvolvimento do meio
ambiente, tais como população, saúde, paz, direitos humanos, democracia, fome,
degradação da flora e da fauna, devem ser abordados dessa maneira (CASCINO,
2000, p.95).
A
Educação Ambiental debate que o meio ambiente é um espaço de relações, e de
interações culturais e sociais, pois, nem sempre, as interações humanas com a
natureza são daninhas, porque existe uma co-evolução entre o homem e seu meio,
onde a evolução é o fruto das interações entre a natureza e as diferentes
espécies, e a humanidade também faz parte desse processo.
Assim,
acompanhamos o raciocínio de Loureiro (2005) com relação a uma definição do que
viria a ser a Educação Ambiental, a qual define enquanto:
Uma
práxis educativa e social que tem por finalidade a construção de valores,
conceitos, habilidades e atitudes que possibilitem o entendimento da realidade
de vida e a atuação lúcida e responsável de atores sociais individuais e
coletivos no ambiente. Nesse sentido, contribui para a tentativa de
implementação de um padrão civilizacional e societário distinto do vigente,
pautado numa nova ética da relação sociedade-natureza (LOUREIRO, 2005,
p.69).
Nos
dias de hoje, o homem age na natureza como se não fosse parte dela, e como se
ambos não estivessem em permanente interação. Age, na natureza, motivado pelo
seu enriquecimento, visando ao capital desejado, para ter poder no seu meio
social, e não percebe os males que deixou e ainda deixará aos aspectos
naturais.
Muitas
pessoas pensam que sozinhas não poderão amenizar as causas ambientais. Elas
fazem uso de poluentes, spray de cabelo, aerossóis e afirmam “do que adianta eu
não usar, se todos usam, não sou eu sozinha que amenizarei o problema da
poluição”.
Esse
modo de pensar vem de muito tempo, quando esperamos que as atitudes, as
decisões venham do “outro” e não do “eu”, ou seja, que decisões sejam restritas
aos políticos, empresários, enquanto cabe aos demais membros da sociedade
obedecer. Isto se refere ao comodismo que assumimos e ao desuso do papel de
cidadão perante a sociedade.
Obviamente
que os cidadãos possuem na sua individualidade uma força restrita perante aos
macros agentes sociais, tais como o Estado, as Corporações, as ONGs
(Organizações Não-Governamentais) e o Narcotráfico Organizado. Todavia,
destacamos o papel da Educação Ambiental enquanto uma possibilidade de fomentar
uma sensibilização com os educandos de modo a germinar atitudes voltadas as
problemáticas ambientais por meio do tecido social. As quais possam mobilizar
forças e pressionar os macros agentes, uma vez que esses são entidades
autônomas que “pairam no ar”, mas instituições provindas da própria sociedade.
Precisamos
mudar nossos comportamentos e pensamentos cotidianos para poder exercer a nossa
cidadania, que “diz respeito ao exercício à vivência dos direitos e deveres do
cidadão expressos na Constituição de cada país” (PENTEADO, 1994, p. 25).
O
ser humano produz sérios problemas ambientais e deve repensar suas ações e seu
papel de cidadão, achando soluções para viver na sociedade, sem agredir a
natureza e que as gerações futuras possam viver num ambiente ecologicamente
equilibrado.
A
Educação Ambiental propõe, no processo educativo, a formação de sujeitos
capazes de compreenderem o mundo e agir nele de forma crítica e consciente,
tentando fazer com que o indivíduo compreenda as suas relações com o ambiente e
construa novas sensibilidades e posturas éticas diante do mundo, trabalhando
conhecimentos voltados à sociedade e o meio ambiente.
No
ensino da Educação Ambiental, o aluno deve entender a relação da ciência com o
meio ambiente, e toda a problemática ambiental, e que os educandos percebam que
podem intervir neste processo, através de soluções para os problemas
ambientais, realizando ações em defesa do meio ambiente, não importa que sejam
pequenas, mas que entendam que algo pode ser realizado para modificar os
problemas ambientais.
A
escola também tem a função de desenvolver no educando conhecimentos úteis para
a sua vida como a leitura, a escrita, a matemática, as ciências, a história dos
lugares e da sua vida, o conhecimento geográfico, sendo estes, conhecimentos
úteis para que o aluno possa ingressar no mundo do trabalho, ser consciente da
sua cidadania para cumprir seus direitos e deveres.
Para
que o professor consiga atingir a aprendizagem dos alunos é interessante que
seja utilizado os temas ambientais, pois estes relacionam o homem com a
natureza, facilitando a integração das diferentes disciplinas. Os problemas
ambientais como o desmatamento e poluição são questões que estão fazendo parte
dos meios de comunicação, assim fica mais fácil o educador utilizar exemplos do
dia-a-dia, para ilustrar nos conteúdos escolares.
Também
o ambiente escolar é o espaço indicado para a discussão e o aprendizado dos
vários temas urgentes e atuais, como é o caso da Educação Sexual, da Educação
para a vida, para o Trabalho, e da Educação Ambiental. Nesse contexto:
A
tendência da Educação Ambiental é tornar–se não só uma prática educativa, ou
uma disciplina a mais no currículo, mas sim consolidar–se como uma filosofia de
educação, presente em todas as disciplinas existentes e possibilitar uma
concepção mais ampla do papel da escola no contexto local e planetário
contemporâneo(REIGOTA, 2002, p. 80).
A
criança deve ter noções de Educação Ambiental desde as séries iniciais, como na
pré-escola para que entenda as relações sociais existentes no seu meio, conhecendo
os seus direitos e deveres, para atuar criticamente na sociedade, exercendo,
assim, a sua cidadania. Segundo Penteado (1994, p. 53) “a escola é um local,
dentre outros (trabalho, família, igreja etc.), onde professores e alunos
exercem a sua cidadania, ou seja, comportam–se em relação a seus direitos e
deveres de alguma maneira”.
A
tarefa da escola é proporcionar, desde cedo, um ambiente favorável para o
processo de ensino-aprendizado das questões relacionadas ao meio ambiente. O
aluno deve receber informações e valores a respeito do meio ambiente. Já na
pré-escola, a criança, nessa fase, não sabe ler, escrever, contar, mas lê o
mundo ao seu redor, através dos símbolos, desenhos e compreende os problemas
que cercam a sua vida. Assim:
O
aluno, desde a pré–escola, necessita conhecer e distinguir os vários ambientes
que lhe são dados a conviver, a fim de entender as várias relações sociais que
ele estabelece com diferentes personagens do seu cotidiano, de modo a perceber
os seus direitos e deveres para com os lugares e as pessoas a sua volta. E
através do exercício da Educação Ambiental que a criança vai não só perceber os
valores que transformam o ambiente físico a sua volta no seu lugar de viver,
mas também como preservar estes valores. Desta maneira, a Educação Ambiental
não pode ser reduzida a um aglomerado de atividades ecológicas, pois a proposta
não é ser uma educação para o ambiente, mas sim uma educação para a cidadania
plena (RUTKOWSKI, 1993, p. 55).
O
desafio dos profissionais da educação é identificar de que maneira as questões
ambientais e sociais que, aparentemente, estão distantes do nosso meio,
atingem-nos e como podemos trazê–las para a discussão em sala de aula. Assim, o
professor pode levar em consideração as experiências e conhecimentos trazidos
pelos alunos. Ao trabalhar o conhecimento ambiental, este deve ter significado
para o educando, como exemplos de problemas sócio-ambientais ocorridos no seu
meio social, fazendo com que ele pense, reflita e tente encontrar soluções para
amenizar o devido problema. Assim:
A
escola e, muito especialmente, os professores devem conhecer a problemática da
Educação Ambiental de forma que no desempenho da docência favoreçam o espírito
crítico e a conscientização de seus alunos como agentes atuantes na relação
indivíduo/meio ambiente, relação essa permeada pela tríade ciência/tecnologia/sociedade
(KOFF, 1995, p. 143).
O
aluno deve construir conhecimentos a respeito do seu papel de cidadão frente à
sociedade e sobre o desenvolvimento sustentável, que é a utilização dos
recursos naturais, sem agredir o meio ambiente, para que as futuras gerações
possam viver num ambiente com menores índices de poluição e destruição, em que
possamos atender “às necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade
das gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades”. (PENTEADO, 1994,
p. 33). Cabe à escola construir conhecimentos juntamente com os alunos, para
formar indivíduos com consciência social e respeito à natureza e que exerçam
seu papel junto à sociedade.
Devido
a isso, é necessário um trabalho contínuo com os alunos, para que percebam a
realidade do planeta e vejam que as suas ações podem alterar para melhor a vida
no ambiente em que vivem e produzem. Logo, no ambiente escolar, cabe o papel de
trabalhar a sensibilização das crianças em torno das questões relacionadas a
problemática ambiental, e a Educação Ambiental, possa ser um veículo divertido
e atraente, para que os educandos sintam vontade de compreender os
conhecimentos voltados ao meio ambiente.
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